No Brasil, a trilogia de tambores sagrados: Rum, Rumpi e Lé, articula a mensagem rítmica e melódica da comunicação com as divindades, fazendo-as movimentar-se nas coreografias que revelam aos olhos de todos a odisseia de Orixás, Voduns, Inquices e Caboclos, reportando-se, portanto, a história do mito, as propriedades e virtudes dos mesmos, com a mesma finalidade de repercutir mensagens que têm os Tambores Falantes na África.
(Professor Jaime Sodré)

O Projeto Rum Alagbê tem por base o aprendizado dos ritmos, técnicas e saberes que envolvem instrumentos musicais de matriz africana. Nossos instrumentos são caminhos que levam às dimensões diversas: ancestralidade, estudo, conhecimento técnico, prático e teórico, integração, arte e formação social. São também instrumentos históricos de fé, de resistência e de luta. Permaneceram e se multiplicaram entre nós, até a atualidade, na base da perseverança do povo negro vindo para o Brasil na condição de escravos. São tambores sagrados, instrumentos indiofônicos, membrafones, batas, hilus e atabaques usados nos ritos e liturgias das religiões de matrizes africanas e, fora dos templos religiosos dos terreiros e das casas, no seu uso laico/temporal, artístico e musical. Para o Rum Alagbê, o tambor é conhecimento e requer antes de tudo reverência, respeito e técnica para que o som possa ressoar as bases dos ritmos. São os nossos instrumentos para educar e formar meninos e meninas do contexto social em que atuamos.

Os Atabaques (Hun; Hunpí e Lẹ )

Os atabaques se constituem de tambores cilíndricos ou ligeiramente cônicos, com uma das bocas coberta de couro de boi, veado ou bode. São tocados com as mãos, com duas baquetas (agdavis), ou por vezes com uma mão e uma baqueta, dependendo do ritmo e do tambor. No candomblé o atabaque tem seu próprio nome de acordo com a sua nação, que é o que denomina a sua origem na África. Mas, no Brasil, a maioria dos terreiros de candomblé adotou nomes específicos dos atabaques que provêm do Fon (Fòngbè), língua dos Jeje e do Ewe, que são Hun (o atabaque maior), Hunpí (o atabaque médio) e Lé (o atabaque pequeno).

Rum (Hun)

O maior dos três atabaques utilizado é o mais destacado, não só pelo seu tamanho, mas pelo que ele realiza. Ele é conhecido por ser o solista, contudo, sua maior função é marcar os passos de dança dos Orixás com seus repiques e floreios. A depender do toque e da nação que o envolve, pode ser tocado com as duas mãos na sua pele, ou com um só agidavi (baqueta) em uma das mãos sendo a outra usada diretamente na pele, como vemos nas nações Ketu e Jeje. Suas medidas variam, mas em média possui 110 cm de altura e boca de 15 cm de diâmetro.

Hunpí (o atabaque médio)

Hunpí tambor de tamanho médio, 90 cm de altura e boca de 13 cm de diâmetro. Pode ser tocado com dois agidavi ou com as duas mãos na pele, a depender do toque e da nação que o envolve.

Lẹ

Tambor de menor porte, com altura de 70 cm e boca de 12 cm de diâmetro. Pode ser tocado com dois agidavi ou com as duas mãos na pele, a depender do toque e da nação que o envolve.

Agidavi

Feito de madeira muito resistente como o araçazeiro, goiabeira e ingazeiro, o Agidavi é o termo usado para chamar as baquetas que são percutidas nos atabaques e são fundamentais nos candomblés Ketu e Jeje, representando sua principal característica, pois os atabaques são tocados com o agidavi.

Gán (Agogô)

Campânula de metal, instrumento idiofone tocado com uma baqueta de ferro ou de madeira.  Ele remete ao tom mais agudo e tem como principal característica marcar a célula rítmica e, além de ser também é responsável por iniciar os ritmos, sendo os tambores guiados pelo seu som agudo e perceptível por todos.

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