Histórico da Fundação

Ilé Iyá Omi Àse Iyamasé, conhecido popularmente como Gantois foi fundado em 1849, pela africana Maria Júlia da Conceição Nazareth, constituindo-se num espaço sagrado de longa expressão religiosa e notável santuário que mantém os costumes e os legados milenares dos povos Iorubá (Abeokutá), preservando o culto aos Orixás, seguindo uma tradição matriarcal com base na estrutura familiar de manutenção dos laços parentais, onde as dirigentes são sempre do sexo feminino obedecendo aos critérios de hereditariedade e consanguineidade. Tradicional e centenário candomblé da Bahia é oriundo do Ilé Asé Airá Intilè (Candomblé da Barroquinha). O nome Gantois deve-se ao antigo proprietário do terreno, o traficante de escravos belga Édouard Gantois, que arrendou as terras a Maria Júlia da Conceição Nazareth, a fundadora do candomblé do Alto do Gantois. O espaço numa área alta, cercada por um bosque de difícil acesso, protegia o local da perseguição policial existente à época.

Estrutura Organizacional

A estrutura do Terreiro reflete a sua simbologia. Esse é o espaço do sagrado vivido em comunidade. Assim, as construções têm usos religiosos e sociais. Há o espaço dos festejos no barracão, os assentamentos das divindades, etc. E, a natureza é parte fundamental dessa estrutura e expressão do sagrado,além dos compartimentos domésticos e da área externa que engloba o entorno.

Linha Sucessória

O Ilé Iyá Omi Asé Iyamasé, conhecido como Terreiro do Gantois, talvez seja o único no Brasil que preserva em sua direção uma descendente direta das africanas fundadoras do primeiro Candomblé de origem iorubana, seguindo a tradição matriarcal. É um templo que segue as regras tradicionais com base na estrutura familiar de manutenção dos laços parentais, onde as dirigentes são sempre do sexo feminino obedecendo aos critérios de hereditariedade e consanguineidade, com uma linhagem de poderosas sacerdotisas.

Maria Júlia da Conceição Nazareth (1800-1910)

Africana liberta que fundou, em 1849, o Terreiro do Gantois, tornando-se a sua primeira Iyalorixá. Casada com Francisco Nazaré (1789 – 1859), africano jeje, com quem teve 10 filhos.

 

 

 

 

Pulchéria Maria da Conceição Nazareth (1841-1918)

Foi a segunda Iyalorixá do Terreiro, assumindo em 1910 a liderança no lugar de sua mãe, Maria Júlia. Consolidou e fortaleceu o Gantois,mostrando profundo poder de liderança o que lhe legou a titulação de “Pulchéria de Oxossi – a grande”.

 

 

 

Maria da Glória Conceição Nazareth (1879 – 1920)

Foi a terceira Iyalorixá do Terreiro do Gantois, sucedendo sua tia Pulchéria, no período de 1918 a 1920.

 

 

 

 

Maria Escolástica da Conceição Nazareth (1894-1986)

Filha de Joaquim e Maria da Glória, Maria Escolástica da Conceição Nazareth, mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois, tornou-se a quarta Iyalorixá do Gantois, e liderou no período de 1922 a 1986. Casada com o advogado Álvaro Macdowell de Oliveira, teve duas filhas: Cleusa e Carmen.

 

 

 

Cleusa Millet

Filha mais velha de Mãe Menininha, estando à frente do Gantois no período de 1989 a 1998.

 

 

 

 

Carmen Oliveira da Silva

Filha mais nova de Mãe Menininha, e atual Iyalorixá do Gantois, Mãe Carmen de Oxaguian foi iniciada aos 7 anos de idade, nasceu e cresceu dentro da Casa do Candomblé, e viveu grande parte de sua vida como Iyalaxé do Gantois. Foi casada com José Zeno da Silva, tendo duas filhas Ângela Ferreira (Iyakekerê) e Neli Cristina (Iyadagan), três netos (Bruno, Leila Carla e Leandro), e duas bisnetas (Letícia e Sophia). Desde o ano de 2002, por determinação dos Orixás, assumiu o trono do Gantois, seguindo os costumes e tradições de sua família, dando continuidade a essa linhagem de sabedoria, de religiosidade e de preservação das matrizes africanas no Brasil.

Funcionária aposentada do Tribunal de Contas do Estado seguiu por alguns anos em sua carreira de contadora, mas o seu destino já havia sido traçado pelos orixás, e foi convocada para assumir o trono do Gantois.

Ao longo dessa trajetória, tem desempenhado um papel fundamental na preservação das tradições de sua família, que possui ancestralidade africana, dando seguimento com muito respeito, amor e firmeza à missão que os Orixás designaram.

Em virtude de todo o trabalho que tem desenvolvido para preservação das tradições numa perspectiva de diálogo inter-religioso, Mãe Carmen foi agraciada com a “Medalha dos 5 Continentes ou da Diversidade Cultural”, comenda entregue pela Unesco, através Presidente do Conselho Executivo da Unesco e Delegado Permanente do Benin, Embaixador Olabiyi Babalola Joseph Yai, em maio de 2010. Além da comenda, Mãe Carmen recebeu do Embaixador as faixas da Sociedade Secreta Gueledés, por ser uma liderança que salvaguarda a ancestralidade de matriz africana em sua comunidade.

Participou da coletânea de textos para o livro “Recomeços”, da jornalista e escritora Lina de Albuquerque, pela Saraiva Editora, com um depoimento de vida, relatando a trajetória determinada pela ancestralidade.

Além da parte religiosa, Mãe Carmen também promove ações sócio-educativas junto à comunidade do Gantois, realizando através aa Associação de São Jorge Ebé Oxossi, benfeitorias para a circunvizinhança.

Na parte cultural, empreendeu ações voltadas para acessibilidade às referências da memória da religiosidade de matriz africana na Bahia, com cursos de ritmos e toques, dança, bordados tradicionais, dentre outros, intercâmbio com instituições culturais do Brasil e do exterior, principalmente África, Cuba, França e EEUU, que possuem eixos de trabalho e pesquisa voltados para a problemática do negro e de sua religiosidade. Com o tombamento do Gantois, em 2002, também se voltou para os cuidados com a questão patrimonial material e imaterial existente no Memorial Mãe Menininha, cujo resultado pode ser conferido com a obra “Memorial Mãe Menininha do Gantois – Seleta do Acervo”, da qual é autora e que foi lançada em julho de 2010. Ainda no campo artístico, Mãe Carmen foi homenageada com a composição da música “A Força do Gantois”, composta pelo sambista Nelson Rufino, lançada em agosto de 2011.

Patrimônio Cultural do Brasil

O Terreiro do Gantois é um elemento de preservação e perpetuação da memória e tradição cultural da Bahia e do Brasil. Por isso, foi considerado Área de Proteção Cultural e Paisagística pela Prefeitura Municipal de Salvador, através da lei nº 3.590 de 16/12/1985, e tombado pelo IPHAN como Patrimônio Histórico e Etnográfico do Brasil, portaria nº 683 de 17/12/2002.

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